25 de novembro de 2016

as palavras e a eternidade (sobre não escrever)

Não gosto das palavras
pois elas eternizam
e a eternidade, meu caro, é algo seríssimo
para quem lê o mundo
sob a dialética do infinito
a eternidade se mostra como prisão
e as vezes, alívio
desafogo em tempos sombrios
ensurdecedor grito em tempos bonitos
as palavras meu amigo
eternizam
todas as constelações das experiências
que em boa parte do tempo
eu preferiria manter no esquecimento
talvez por confusão
talvez por alívio

de certo que concordo, que em partes
deveria
encarar meus pensamentos
como fotogramas
do ontem, do hoje
e do vir a ser
que registram uma história 
que como sujeito estou a escrever
mas poderia negar a minha resistência
a declarar ao mundo de forma tão aberta
o que de mais intimo há em mim?
quiçá deixar registrado em um papel
que pode vir a não mais me pertencer?

meu caro, não por ora
mesmo que ainda embebida de loucura
em alguns momentos esqueça da tortura
que é deixar registrado meus pensamentos mais escusos
não me sinto pronta
para revelar ao mundo a minha própria eternidade
e é por isso que cada palavra
que eu deixar registrada
será involuntariamente arrancada
de dentro de mim
com angústia;

Ao Bruno - sobre porque não gosto de escrever.


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