27 de novembro de 2016

sobre ser e não ser (a exceção e a regra)

em tempos de percepção da massificação de todas as esferas da vida social, de normatização do pensamento e das vivências, a ideia da exceção surge como primeiro elemento transgressor, acalentador para o histórico conflito entre o ser e a autoconsciência. O aprofundamento da ideia, traz em si mesmo, enquanto processo, uma frustração subsequente. Ao perceber que somente nela, não se finda, pois não se supera. Isto é, a compreensão que a exceção faz também parte da regra é um estágio de letargia do qual se debruça o sujeito com uma barreira aparentemente intransponível, entre a consciência de suas correntes e a experiência de libertação das mesmas. Após o torpor, identificando que a sua primeira experiência, não se tornou suficiente, que a rebeldia não se concretizou como fim nela mesma, o ser e a autoconsciência se chocam mais uma vez, de forma ainda mais aguda, movimentando uma nova busca, pela cisão do outro dentro de nós mesmos. Quanto a isso, não tenho por ora nenhuma indagação que ponha o ponto final nesse mal estar. Mas poderia dizer que intuo, que as experiências que nos postam diante desse movimento, ocorrem entre o acalento da transgressão e o suplício da adequação civilizatória, entre o querer ser a exceção, mesmo que nunca fujamos da regra;

25 de novembro de 2016

as palavras e a eternidade (sobre não escrever)

Não gosto das palavras
pois elas eternizam
e a eternidade, meu caro, é algo seríssimo
para quem lê o mundo
sob a dialética do infinito
a eternidade se mostra como prisão
e as vezes, alívio
desafogo em tempos sombrios
ensurdecedor grito em tempos bonitos
as palavras meu amigo
eternizam
todas as constelações das experiências
que em boa parte do tempo
eu preferiria manter no esquecimento
talvez por confusão
talvez por alívio

de certo que concordo, que em partes
deveria
encarar meus pensamentos
como fotogramas
do ontem, do hoje
e do vir a ser
que registram uma história 
que como sujeito estou a escrever
mas poderia negar a minha resistência
a declarar ao mundo de forma tão aberta
o que de mais intimo há em mim?
quiçá deixar registrado em um papel
que pode vir a não mais me pertencer?

meu caro, não por ora
mesmo que ainda embebida de loucura
em alguns momentos esqueça da tortura
que é deixar registrado meus pensamentos mais escusos
não me sinto pronta
para revelar ao mundo a minha própria eternidade
e é por isso que cada palavra
que eu deixar registrada
será involuntariamente arrancada
de dentro de mim
com angústia;

Ao Bruno - sobre porque não gosto de escrever.


23 de novembro de 2016

o mundo que ainda comporta a beleza



o mundo se despedaça
diante do espírito,
impossível se manter alheio
um grito
tempos difíceis
beleza e integridade
impossíveis, privilégios
de poucos
insuficiente
intolerável
sufocante
desperta,
no caos
força
para se manter inteira
para continuar enxergando
toda sutileza de um mundo,
que ainda comporta a beleza;