29 de novembro de 2015

Uma carta as minhas queridas donas de casa desesperadas

Eu sinto falta de vocês. Sinto em vários momentos. Quando estou assando uma fornada de bolinhos, quando passo em frente a uma vitrine reluzente de um shopping, quando folheio livros infantis ilustrados com aquarela, ou mesmo quando estou bebendo uma taça de vinho depois de um dia longo de trabalho... Sinto falta em muitos momentos do meu dia, em várias situações da minha vida. Porque apesar de vocês serem apenas personagens de um roteiro televisivo, cada capítulo dessa estória marcou tanto a mim que não consigo mais de vocês me dissociar. Cada parte de mim hoje tem um pedaço de vocês, o que muito provavelmente significa que quem as escreveu, entendia muito bem sobre o feminino e todo o peso que carregamos em nossas almas. Por isso que essa nossa união será eterna e a minha gratidão a todos aqueles que as trouxeram à vida, jamais suficientes. Hoje sei que o acalento que vocês trazem as mulheres que em vocês encontram a si próprias, é o que de mais feminista pude encontrar. Sei que isso pode soar ironia para quem descobre que vocês foram escritas por um homem e retratadas em um contexto tão comercial e norte-americano, mas eu manterei eternamente essa posição, por ter entendido que as vezes, na maior das contradições é que surgem as melhores estórias.


Nesse instante, me vem claramente a mente a abertura da série. Todas aquelas mulheres, seus papéis sociais e a opressão satirizada com uma alegre e dançante música de fundo. Uma sensação no mínimo instigante, exatamente como cada episódio das oito temporadas. Porque no fundo daquele espetacular cenário, do feliz retrato de tudo de mais perfeito que uma vida poderia ter, da beleza estampada em cada detalhe, encontramos em vocês a representação de todas as mulheres, cada qual com suas marcas, tal como na analogia histórica da abertura. E assim constatamos que do fim ao começo, a aventura do se tornar mulher, é o melhor experiência da existência humana, justamente porque não há nada mais contraditório e desafiador em nosso tempo histórico.

E nascendo portanto, de uma sátira a toda a dor causada em um homem, nos reencontramos em todos nossos vícios e virtudes. Por nós mesmas e pelo mundo, a força para reconhecer os dilemas do eu feminino, nossos limites e tudo que ainda precisa ser transpassado. Como bem vocês retratam, é um peso dos maiores do mundo. Mas é também, e hoje vejo mais claro do que nunca, a maior das oportunidades. Tal como dito, a maneira de experimentar o que há de mais complexo na experiência humana, e talvez assim, nos tornar ainda mais mulheres, mais do que qualquer outro.

Por isso hoje deixarei registrado, para mim, para vós e para o mundo todo esse sentimento que hoje constato. Que apesar de cada uma ter trazido sua própria reflexão a luz de suas experiências, o que devo escrever particularmente à cada uma, todas vocês contribuíram para essa reflexão mais madura, da maravilha que é ser mulher, e continuar se tornando à cada fôlego tomado.

Portanto adeus minhas queridas.
À vocês minha eterna saudade. 

Sei que no futuro, vocês já não mais estarão presentes. Mesmo assim, ainda que no passado, pretendo reencontra-las ainda muitas vezes, quando eu decidir assistir novamente essa maravilhosa estória. 

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